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Íntegra

Foto do escritor: Bárbara BritoBárbara Brito

Por muito tempo fiquei obcecada por entender quem eu era de verdade — a garota sonhadora, sensível, solitária e melancólica que escreve histórias dramáticas e fantasiosas, desenha suas personagens tristes e ouve Lana Del Rey o dia inteiro OU a garota esperançosa, visionária, que inclui e une pessoas, que ri o tempo todo e faz todo mundo rir, que dança louca e esquisitamente nas festas (ou em qualquer lugar na verdade) sem ter que colocar um pingo de álcool na boca e sem ligar para o que vão pensar dela.


Eu me sentia como duas de mim… totalmente diferentes em um corpo só.

A primeira cresceu comigo. Foi como eu me conheci, como eu lembro de ser a partir do momento em que tive consciência de existir; introspectiva, perdida no meu próprio mundo, me expressava mais por meio da arte mesmo, e amava uma novela mexicana… Uma menininha com a imaginação gigante, mas cheia de medos. Já queria alcançar muitas coisas, mas não era capaz de admitir por não se sentir digna. Uma perfeccionista! Amava cantar, mas só escondida por ter vergonha. Pelo mesmo motivo, odiava ter que responder “presente!” na chamada da escola. Tinha dificuldade em se soltar, em falar, em ser. Ela queria atenção, mas não queria chamar atenção. Era muito mais confortável passar despercebida, era mais seguro. Guardava tudo para si.


A segunda começou a aparecer mais ali na pré-adolescência. Era o projeto de uma Bárbara ideal. Uma garota como as protagonistas dos filmes que sempre pegava na locadora. Corajosa! Divertida! Alguém que tem presença! Que está envolvida nas coisas, sabe? Que tem histórias para contar. Que dá a volta por cima. Fui enfrentando minha suposta timidez (traumas, talvez?) e, mesmo surtando, comecei a fazer o que eu queria. Cantei, toquei violão, atuei na frente de todo mundo. Compartilhei mais dos meus desenhos. Disse em voz alta os meus sonhos, que ousadia! Pertenci de verdade a um grupo que me acolheu e acatou minhas ideias. Fui representante de turma no terceiro ano e até oradora na colação. Quem diria? A mesma menina que não queria nem responder a chamada…


Eu gostava bastante dessa nova eu, mas chegou um ponto em que eu não sabia se era de fato eu ou uma máscara que criei para esconder o quão ansiosa eu era, o quanto me sentia triste… e perdida.


A primeira parecia tão sincera, ela sentia as coisas. Ela enxergava e enfrentava a verdade, mesmo que cruel. A segunda me fazia feliz, mas, ao mesmo tempo, não parecia genuína, afinal, eu já não era a outra? Só que eu não queria aceitar essa possibilidade. Eu queria que ela fosse real. Mas seria possível elas coexistirem? Tão contraditórias, opostas… Entre altos e baixos, oscilações de humor bruscas e constantes, eu me sentia em conflito comigo mesma todos os dias. É cansativo, desgastante, te faz andar em círculos e não chegar a lugar algum. Até que, um dia, na minha cabeça assisti a cena como em um filme; vi minhas duas versões exaustas demais para seguirem lutando.


Eu vi uma trégua.


E foi aí que eu entendi que eu não era uma OU a outra. Eu era as duas. Juntas, misturadas. Só tinha que entender a importância de cada uma e respeitá-las. Percebi que eu só tenho que me deixar ser quem diabos eu quiser!

A ambivertida.

A melancólica esperançosa.

A sonhadora pé no chão.

A louca recatada.

A que pensa com o coração.

Uma mulher que pode!

Que pode estar mais de um jeito ou de outro.

Que pode mudar, evoluir.

Que pode sonhar e executar.

Que pode ser forte, mas se sentir fraca às vezes.

Que pode ser boa, mas sair como “ruim” se precisar.

Que pode errar e aprender.

Que, independentemente do que aconteça, vai agir de acordo com a sua própria verdade, vai fazer o que sentir que é melhor para ela.

Que não é a protagonista de um filme, mas da própria vida.


É um grande desafio ser autêntica, mas também é a melhor coisa que alguém pode ser, eu diria. Porque mesmo que você se coloque em uma posição de exposição, ou seja, de vulnerabilidade, mesmo que você sinta medo, vergonha, que você erre… Pelo menos você não está se traindo.

Você está vivendo! E aprendendo a viver cada vez melhor.


Você está sendo íntegra.

E eu acredito que essa é a missão original de todos nós: sermos nós mesmos por inteiro.

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