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TRÉGUA

Foto do escritor: Bárbara BritoBárbara Brito

Ultimamente tenho acordado com a ansiedade me dando “mau diaaa!”.

Abro os olhos e tudo me parece tão errado, do avesso. Dou um suspiro cansado e busco as forças que me restam para seguir em frente mesmo assim. Por muito tempo me vi em guerra comigo mesma, era a metáfora da minha vida. Como se existisse duas de mim, a “boa” e a “ruim” (entre aspas porque não acredito que nada nem ninguém seja apenas bom ou ruim), e as duas lutassem uma contra a outra constantemente.


Um dia eu estava radiante, cheia de ideias e vontade de conquistar o mundo, determinada a viver a vida ao máximo, fazer as coisas mais loucas e bonitas. No outro, tudo isso parecia bobagem e eu me sentia nada mais que uma grande farsa, até porque tem sido difícil fazer qualquer coisa, mesmo o que eu quero muito fazer, mesmo o que me costumava me deixar feliz. Às vezes, o ciclo se repetia no mesmo dia. Ou eu ganhava a batalha gloriosamente ou eu perdia feio. Bem sete ou setenta.


Até que cheguei em um ponto que cansei… não, pior, me esgotei, simplesmente não dava mais, os baques foram pesados demais. Caí de joelhos, ofegante, aos prantos, gritando silenciosamente. Sempre levantei, mas agora não estava conseguindo mais. Eu tentei, mas não deu. Lutando sem cessar, meu lado “bom”, sem descanso, sem alimento, sem água e cheio de feridas (novas e cicatrizes reabertas), passou a se arrastar e clamar por misericórdia.

Me senti péssima por perceber que estava sucumbindo. Como pude fazer isso comigo? Eu tinha que ser minha própria heroína! Eu tinha que ser forte! E ser forte não é fingir que está tudo bem? Não é continuar de qualquer jeito? Não é conseguir lidar com tudo sozinha? Não é aguentar tudo e, shhiiiu, engolindo o choro?


Foi só quando esse modo de sobrevivência se tornou inviável que fui obrigada a enxergar de outro ângulo e aí percebi que… não. É normal cair (até esperado…) e impossível não cansar nunca! Isso não fazia da minha parte “boa”, a que eu considerava a melhor parte de mim, uma fracote. Ela lutou bravamente enquanto pôde e ganhou muitas batalhas, tenho muito do que me orgulhar. Mas ninguém aguenta só lutar, lutar e lutar. Uma hora a gente precisa parar. A gente precisa de tempo, espaço, acolhimento e amor para nutrir e curar a alma para ter condições de enfrentar os obstáculos.


Antes que ela enfiasse a espada no próprio peito, eu lhe disse que tudo bem parar. E sabe o que é mais louco? Só assim, me deixando à mercê da derrota, fui capaz de fazer uma descoberta crucial sobre mim mesma: meu lado “ruim” não é tão ruim assim. Ele podia atacar, mas não o fez. Para a minha surpresa, foi ele que estendeu a mão em sinal de trégua e não o contrário. Pensando bem, por que atacaria, se ele que fez o lado “bom” ser bom, afinal?


Foi quando vi que não preciso ser minha inimiga e escolhi não ser. Desde então, ambos os lados se desarmaram e, unidos por um ponto em comum; a esperança, passaram a andar abraçados, carregando um ao outro. Uma só força. Uma Bárbara equilibrada em seu desequilíbrio. Uma Bárbara que está dando o melhor de si, mesmo que no momento isso signifique apenas dar passos lentos, quase parando, em busca de alguma paz. Uma Bárbara que tem em mente que o que importa é não parar jamais porque vida que segue, com ou sem a gente.

Fácil nunca vai ser, mas apesar de ter me tornado uma Bárbara só, não sou sozinha. Eu tenho pessoas incríveis ao meu redor e tenho, bom, eu mesma. Eu tenho… amor e sou toda amor, e como já ouvi por aí, “tudo o que você precisa é de amor”.


Observações da autora: este texto foi escrito em Setembro de 2017.


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