Minha amiga, Srta. Rayane France, e eu nos desafiamos e comprometemos a escrever mais em 2019 porque ironicamente ambas amamos, mas não fazemos isso tanto quanto gostaríamos, e juntas talvez consigamos criar o hábito, amém.
O primeiro tema eu que sugeri: gratidão por 2018, “que aí dá esperança para continuar”, argumentei. Quer dizer, 2018 foi um ano que durou anos! Saí com essa impressão, você não? Tantas dúvidas, inseguranças, decepções, frustrações, decisões difíceis, situações complicadas, crises existenciais, tretas, ai, fiquei cansada só de listar. Ano de copa, eleições, incontáveis términos e um bando de acontecimentos bizarros e sinistros. Muitos dias foram um 7x1, então muitas vezes só foquei em conseguir passar por eles. Porém, tenho que ser justa, 2018 também foi um ano de muitos aprendizados, obstáculos superados e conquistas, algumas grandes, muitas pequenas, de um jeito ou outro, conquistas, e é isso que importa, não é mesmo?
Na última sessão de terapia do ano, quando minha psicóloga perguntou “então, como você está?”, surpreendentemente respondi “olha… estou bem. (pausa) É, eu estou bem mesmo”, não tinha nada de negativo para falar. Não mais. Parei para analisar e a vida até que parecia equilibrada. Fizemos uma retrospectiva, como de costume — falei várias coisas boas que tinham me acontecido, como progredi e estava orgulhosa de mim mesma. Aí você pensa, deveria ser fácil escrever um texto sobre gratidão, não é mesmo?! Pensei também. Mas, errr, não. Na hora em que sentei a bunda na cadeira e me deparei com a tela em branco do Word, percebi que todas essas coisas boas já não estavam mais tão claras para colocar ali. Não estava lembrando direito pelo que eu era grata.
De qualquer forma, me forcei e comecei a escrever, só que não estava “sentindo” o texto, sabe? Não sabia bem aonde queria chegar. Depois de uma pausa que usei para comer cachorro quente, espairecer e ler uns textos bem aleatórios sobre a Lei da Atração na internet, PLIM! Uma lampadazinha se acendeu sobre a minha cabeça. De repente, saquei qual era o problema… Em 2018, eu fui muitas coisas, mas não fui grata. Não realmente ou o suficiente. Daí eu apaguei tudo e comecei este aqui.
Antes que você me julgue, sim, eu me senti grata. Mas sentir e ser são coisas diferentes. Hum, deixe-me explicar. Era sempre “é, ainda bem”, “hum, pelo menos isso” ou “legal, mas agora eu quero aquilo” e não simplesmente “obrigada!” como deveria ser. Eu nunca estava satisfeita, tinha um vazio que eu queria preencher, mas não sabia com o quê. Pensei que só me sentiria completa e realizada no futuro quando alcançasse objetivo x ou y. Tracei a rota, peguei o GPS, dei vários passos, mas a caminhada, que de início era tão promissora e empolgante, se tornou cansativa a ponto de ter que me arrastar vez ou outra para continuar me movendo. E só agora me dei conta de que em vez de parar, descansar e então continuar, tive tanta pressa, que segui, extrapolei, me atropelei e estabaquei. É nisso que dá ficar andando exausta e cabisbaixa, olhando apenas para os pés cansados e cheios de calos. Assim não se desfruta a vista e as companhias, só se sente a dor e ainda se corre o risco de cair feio.
Eu acredito em equilíbrio, que é isso que devemos buscar para viver bem. E o problema é que em 2018, mesmo com todas as coisas boas na balança da vida, o lado negativo pesou mais. Eu o alimentei, lhe dei força e poder. Analisando o último ano, notei que venho escolhendo este lado há algum tempo, é algo que trouxe de outros anos, e por isso não consigo me sentir feliz ou em paz. Olha só, me formei na faculdade em 2017. Deus e todo mundo que me conhece sabe o quanto me dediquei e (es)forcei para ir até o fim, tirar boas notas, fazer valer. Em novembro, apresentei meu TCC, um curta-metragem que fiz das tripas coração para finalizar. Tirei 10, tipo, uau! Um monte de gente importante para mim estava lá em corpo ou em pensamento, foi todo um chororô de emoção, vibrei com o resultado, mas… no mesmo dia, já fui invadida por um sentimento imenso de desânimo com a vida. Em fevereiro de 2018, ganhei uma câmera fotográfica dos meus avôs. Foi um momento muito significativo para mim, um sonho antigo realizado da forma mais bonita possível, mas… de novo, fuen, o êxtase não durou muito. Em Junho, viajei a Campo Grande com meus amigos para um seminário de Comunicação e fui premiada pelo meu TCC, mas, adivinha só?! É, não preciso nem dizer. E, infelizmente, foi assim com muitas outras coisas.
Eu queria mais. Minha ansiedade me fez acreditar que eu precisava de mais. Trabalhei demais, me cobrei demais, me critiquei demais, coloquei as vontades alheias acima das minhas, aceitei migalhas, me desrespeitei, me senti uma farsa. Em boa parte do tempo, me apontei minhas falhas e as escolhas ruins em vez de enaltecer minhas qualidades, minhas lutas, a grande mulher que venho me tornando. Mas em um inesperado plot twist, com a ajuda da minha psicóloga, dos meus amigos e dos discursos motivacionais de duas tias incríveis que tenho, passei a me enxergar de um jeito diferente e a mudar minhas atitudes — a realmente me valorizar mais, me amar mais. Fiz decisões difíceis que julguei necessárias para o meu bem, me impus, me desafiei a enfrentar meus medos e a agir. Ouvi meu coração e fuuuui atrás de um caminhão, OPA, não, pera! Eu quis dizer, dos meus sonhos e desejos. É, tudo isso em 2018. Se fosse filme, seria O Senhor Dos Anéis (os três juntos) de tão longo.
Como eu disse, me senti grata por tudo isso. Na hora que cada coisa aconteceu e na minha última sessão de terapia. Mas aí que está, meu caro leitor, nós temos que ser gratos, nos agarrar à gratidão até que seja parte de nós e possamos emaná-la. É um estado de espírito duradouro, entende? Uma constante, não algo momentâneo. Claro que nem sempre vai ser assim, a gente precisa também das bads e dos momentos de velha rabugenta, mas, assim, mesmo quando as coisas parecerem ruins, você conseguirá enxergar algo bom ali, tirar algo útil ou pelo menos ter a esperança de um futuro melhor, e vai continuar caminhando (ou nadando, como diria Dory). As ideias e os sonhos nos motivam, as pessoas nos ajudam e dão forças assim como a fé, mentalizar o pote de ouro no fim do arco íris é o que nos move, mas é a gratidão que nos faz aproveitar o caminho. E é isso, acredito eu, que um dia fará da jornada completa e plena. Portanto, a partir de agora, vou deixar de olhar para os meus pés para olhar ao meu redor e eu sei que, apesar de tudo, vou pensar comigo mesma “que mundo maravilhoso!”.
Observações da autora: este texto foi escrito em Abril de 2019.
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