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CONTRATEMPO

Foto do escritor: Bárbara BritoBárbara Brito

Eu tinha tempo.


Quando era criança, eu tinha tempo para dormir, tinha tempo para estudar, tinha tempo para ler, tinha tempo para brincar, tinha tempo para desenhar, tinha tempo para sonhar e tinha tempo para viver os sonhos. Mas o tempo em que eu tinha tempo se foi. Bom, o tempo sempre se vai — não volta, não acelera, não para, só… se vai, e não espera ninguém. O tempo não me esperou. Hoje corro contra o tempo. Às vezes (muitas), ele me atropela.


Hoje não tenho tempo para viver os sonhos que as Bárbaras de quatro, sete, doze, quinze, dezoito anos sonharam para mim. Hoje, não tenho tempo de viver os sonhos que sonho hoje. Quero fazer um curso de culinária, quero aprender a costurar, quero fazer aulas de francês. Não tenho tempo. Quero sair, quero me divertir, quero ver meus amigos. Não tenho tempo. Quero desenhar, quero ler um livro, quero escrever um livro (dois, três, cinco, sete), mas… não tenho tempo. Eita! Há quanto tempo não tenho tempo? Nossa, já faz tempo! Argh. Realmente, o tempo voa, né?!


Dizem que passa mais rápido quando se faz o que gosta, mas, sabe, acho que passa ainda mais rápido quando se faz o que não gosta. Quer dizer, um dia, eu fui uma garota de doze anos que sonhava em publicar um livro aos dezesseis, no outro, eu era uma garota de dezesseis que não tinha escrito livro nenhum, em vez disso, estava sob pressão para tomar decisões importantes sobre o tempo que estava por vir (ao mesmo tempo que não tinha maturidade para isso) e, de repente, cá estou eu, uma garota de vinte e dois anos que se questiona quase que o tempo todo “o tempo tá passando e passando e passando e o que diabos eu estou fazendo da minha vida?”.


Sinto que não tenho tempo para fazer o que eu quero de fato fazer. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Será mesmo que eu não tenho tempo? Começo a duvidar, a refletir e as palavras cantadas por Renato começam a fazer sentido. “Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo…”.


Talvez o verdadeiro contratempo não seja a falta de tempo, mas, sim, eu mesma. Eu, que vivo fora do tempo, ou atrasada ou adiantada, mas nunca na hora… por…. medo de perder tempo. Ah, mas isso sim é uma grande perda de tempo! Temos mesmo todo o tempo do mundo — ou, pelo menos, temos tempo enquanto tivermos tempo.


O tempo é o agora. O tempo é que escolhemos fazer com ele. E, olha, eu não sei vocês, mas eu não quero que o meu tempo seja dinheiro, eu quero é que o meu tempo seja precioso. Eu quero aproveitar cada segundo, fazer valer a pena cada grãozinho de areia da ampulheta da vida. Eu quero viver o meu tempo. Afinal, o clichê é clichê por ser real, o tempo voa! E eu não quero mais correr contra ele, eu quero voar com ele.


E eu sei que vou… é só uma questão de tempo (e de escolhas).


Observações da autora: este texto foi escrito em Novembro de 2017. Eu não estava conseguindo administrar meu tempo, sentia que não conseguia produzir nem descansar direito, logo, que não chegava a lugar algum.

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